expandindo ojaskara
“Ué, mas você não era a professora de yoga?”
Ouvi essa pergunta depois de apresentar os resultados de um projeto de intervenção comunitária, no qual atuava como avaliadora. Foi uma pergunta genuína — e, ao mesmo tempo, reveladora: muitos ainda se surpreendem com a multiplicidade dos caminhos que percorro.
Esse ponto de surpresa já me acompanha há algum tempo, e talvez tenha se intensificado com a conjuntura astrológica e o último eclipse, além do marco simbólico de meio século de vida. Isso me trouxe uma vontade honesta de revisar quem sou, o que venho me tornando… e com o que – e com quem – desejo me alinhar.
Nos últimos anos, venho atuando intensamente tanto no campo do urbanismo, da memória e da cultura quanto nas práticas védicas — astrologia, yoga e ayurveda. Embora pareçam universos distantes, têm se revelado, cada vez mais, como partes complementares de um mesmo processo: criar vínculos significativos com o mundo — e com quem o habita.
Alguns acompanharam essas passagens em contextos diversos: em projetos culturais, estudos e revitalizações urbanas, vivências com comunidades ou em práticas mais íntimas de autoconhecimento. Quando se olha em perspectiva, é possível perceber o quanto tudo está conectado. Essa integração não é apenas estratégica — é um gesto de coerência. Em vez de compartimentalizar saberes e atuações, nasce a vontade de vivê-los como um todo orgânico.
É também uma reinterpretação do próprio conceito de pertencimento, um dos pilares do meu trabalho. Assim como corpo e mente precisam estar em equilíbrio, territórios e indivíduos também devem ser compreendidos em sua totalidade — com todas as suas camadas, contradições e histórias.
Ojaskara, até aqui, foi um espaço voltado ao compartilhamento de saberes védicos e experiências pessoais. Mas chegou o momento de ampliar esse campo. A proposta é torná-lo um lugar de convergência: onde cabem astrologia, arquitetura, museologia, yoga, memória coletiva e cartografia interior. Um espaço que integra diferentes saberes e linguagens, todos voltados à criação de relações mais profundas com o território, com a coletividade e com a dimensão íntima da experiência. Um fazer vivo, que engaja e convida à participação — em que cada pessoa oferece algo de si na construção de um tecido comum.
Essa fusão reflete um princípio que atravessa muitas jornadas: a noção de pertencimento — não como um lugar fixo, mas como um estado de conexão. Assim como um mapa astral só faz sentido ao se observar o conjunto das relações, também as práticas integradas ganham potência quando articulam ferramentas diversas e territórios múltiplos — sejam eles internos ou externos.
Nos próximos meses, Ojaskara passa por uma reformulação de site, conteúdos e serviços, alinhando-se a uma visão mais ampla e integrada. Mais do que uma mudança estética, trata-se de um reposicionamento que expressa uma forma de estar no mundo.
Ojaskara passa a ser esse campo vivo de atravessamentos e encontros:
onde o visível e o invisível se conectam,
onde o individual e o coletivo se escutam,
onde o saber técnico e o sensível se entrelaçam.
Esse processo de integração reflete o próprio movimento da vida. Já não há mais espaço para compartimentos estanques ou identidades limitadas. Ojaskara representa, mais do que nunca, a união de diferentes práticas, saberes e perspectivas — voltados a um propósito comum: cultivar conexões transformadoras — entre o dentro e o fora, entre o eu e o outro, entre corpo, tempo e lugar.
Sou profundamente grata pelas mensagens carinhosas e pelos depoimentos que recebo. Agora, com a ampliação do escopo, espero que possamos continuar juntos nessa travessia — explorando novas possibilidades e criando espaços de maior conexão e significado.
Seja bem-vinde a acompanhar essa expansão.
Quem sabe ela também inspire você a honrar seus próprios múltiplos caminhos —
e a pertencer de jeitos novos, mais inteiros.
fotografia de Fernanda Curi, Porto 2025