movimento pendular

A vida é um jogo constante entre sabedoria e confusão, entre incertezas e oportunidades, entre alegrias e tristezas. Essas dualidades emergem simultaneamente, lembrando-nos de que estamos sempre em um estado contínuo de escolha entre essas alternâncias. Naquele pêndulo entre querer experimentar algo novo e não querer deixar a zona de conforto, sabe? No fim das contas, tudo depende de como escolhemos lidar com o que escolhemos.

Não se trata de ser uma coisa ou outra, mas de criar possibilidades para um vir-a-ser que emerge da própria indefinição. Pois é essa indefinição que estrutura a engrenagem do eterno devir. Vale lembrar da filosofia do devir nietzschiana: o que impera é essa mudança constante, não termos segurança de nada e em nada, e, portanto, vivemos cotidianamente em superar-nos, uma superação para continuar na nossa caminhada vital. Porque a vida não é outra coisa que vontade de potência, relação de forças.

De um lado, há vícios, doença, destruição, poluição, apego, violência; do outro, há saúde, ecologia, harmonia, espiritualidade, consciência. Um dia, tudo parece perfeito. Você está otimista, as coisas caminham bem, você se sente disposta e consegue até rir daqueles velhos problemas. Sente-se radiante porque está conectada, no eixo, fazendo o que deve ser feito. Até que, de repente, algo inesperado acontece: você é rejeitada em um trabalho, perde algo de valor, sofre um pequeno acidente doméstico, adoece, discute com uma pessoa amada.

Assim, tudo que estava bem desmorona. A alegria e o amor que sentia se transformam em raiva, ansiedade, depressão. O bem-estar desaparece quando toda a dor do mundo se concentra naquele ínfimo ponto das costas. E tudo isso por conta de algo que chegou sem ser anunciado e te pegou desprevenida. Como dito por Freud, “quando alguém sofre uma dor corporal muito forte, ele é de tal maneira absorvido por essa condição que retira toda a sua libido e interesse no mundo. No buraco de seu molar se concentra a sua alma”.

Mas o que fazer se isso sempre vai acontecer, pois a existência não é outra coisa que uma mudança constante, e tudo está em trânsito, o tempo todo? Não há uma forma de controlar a indefinição, o inesperado. Nenhuma ansiedade, que quer controlar tudo, consegue controlar o imprevisível. O único que podemos fazer é nos preparar, física e emocionalmente, para saber lidar com os efeitos da surpresa.

A vida é, de fato, pendular. Como numa rede de descanso, em que até gostamos de balançar entre um extremo e outro, mas que fica mesmo ideal quando encontramos aquela posição em que o pêndulo se equilibra, onde, lá no meio, conseguimos nos aninhar e nos entregar, sentindo conforto, segurança e paz. Desse modo, o melhor a fazer é aceitar o movimento pendular, buscando apenas nos afastar dos extremos.

Aceitar o movimento pendular da vida não significa resignar-se à passividade, mas sim entender que a verdadeira sabedoria está em encontrar equilíbrio e resiliência no meio das oscilações. É sobre reconhecer que tanto os momentos bons quanto os ruins são temporários, e que nossa capacidade de responder (RESPONSAbility) e de permeabilizar (PERMEAbility) nossas experiências determina a qualidade de nossa jornada. É sobre aprimorar a percepção, e para isso há uma tecnologia ancestral: o yoga.

De acordo com Sadhguru, toda a ciência do yoga é sobre aprimorar a percepção, pois somente o que você percebe, você sabe. O resto é imaginação. Yoga não é um sistema de crenças, não é um ensinamento, não é nem mesmo uma filosofia. É uma tecnologia para expandir a dimensão de quem você é agora: seu corpo, mente, emoção e energia - as quatro coisas que você chama de "eu" neste momento.

Encontre conforto no balanço, sabendo que ele é natural e inevitável. Ao fazer isso, você não apenas minimiza os impactos dos altos e baixos, mas também aprende a apreciar a dança da vida em toda a sua complexidade e beleza.

fotografia de Fernanda Curi, às margens da Ribeira de Pêra, Portugal, 2024

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