que karma!
O novo ano astrológico começou no último sábado, 13 de abril, com o Sol ingressando em Áries, conforme os cálculos siderais e observáveis. Este momento marcou o término de um ciclo permeado por trânsitos intensos, culminando com um eclipse solar total, que pôde ser testemunhado globalmente e só se repetirá daqui a duas décadas. Durante esse período, muitas conversas surgiram, e o projeto Cura, que nos preparou com práticas de conexão interna para o eclipse lunar precursor do solar, serviu como um termômetro da intensidade do momento.
Numerosos relatos ecoaram medos, grandes transformações e desafios, frequentemente atribuindo seus desconfortos a outras pessoas ou a fatores externos. Houve até quem culpasse os planetas e seus trânsitos! Estes excessos fizeram-me recordar um meme brilhante que vi uma vez, um desenho animado em que a Terra clama para Mercúrio quando este se aproxima da sua órbita "Oooo mercúrio, foi você quem tirou o trabalho do Gerson?!"
É crucial esclarecer que os planetas apenas refletem as consequências de nossas ações; eles não exercem uma influência tão decisiva sobre nós. Somos os arquitetos de nossas próprias experiências, e a escolha sempre está em nossas mãos. Por exemplo, o medo pode surgir da incerteza em relação a uma escolha feita, ou uma decisão tomada de forma inconsciente, impulsiva ou descuidada. A lei do Karma, base da astrologia védica, nos lembra que, embora tenhamos o privilégio de agir, não controlamos os resultados das nossas ações.
Uma das definições de Yoga é "Perfeição na Ação". Neste contexto, perfeição refere-se à arte de viver conscientemente, agindo com intenção e atenção, reconhecendo nossa falta de controle sobre os resultados. Tudo opera dentro da Ordem do Todo, que determina as consequências de nossas ações. Por isso, devemos evitar transformar essa busca pela perfeição em uma obsessão, pois repetir ações cria padrões que podem desequilibrar-nos e levar à doença.
Segundo o Ayurveda, existem três níveis de desequilíbrio que dão origem a todas as doenças: o orgânico, relacionado aos elementos e doshas, influenciados pela alimentação, estilo de vida e ambiente; o mental, associado aos gunas (sattva, rajas e tamas, como já mencionado aqui); e o espiritual, relacionado à alma, originando doenças decorrentes do karma, muitas vezes provenientes de experiências de vidas passadas. Isso significa que os efeitos das nossas ações podem não se manifestar nesta vida, podendo surgir em futuras. Da mesma forma, frequentemente experimentamos resultados das ações passadas nesta existência. Já alguma vez se perguntou: "Por que isso aconteceu comigo, se eu nunca..."? É possível que este “nunca”, se refira apenas a esta vida.
Assim, é essencial olharmos para os nossos padrões durante este mês de abril, identificando o que pode ter escapado à nossa percepção no meio da turbulência cósmica dos últimos eclipses. Confrontar nossos karmas pode ser desconfortável, mas é uma oportunidade preciosa para o nosso crescimento.
O termo "Karma" é muitas vezes deturpado, sendo associado a algo negativo ou uma espécie de maldição. Karma significa, no entanto: ação e seus resultados. Todas as nossas ações geram, mais tarde ou mais cedo, resultados. A lei do karma opera com base na razão e de acordo com regras claras:
1. Boas ações geram bons frutos, enquanto ações errôneas levam a resultados indesejáveis.
2. Boas ações conduzem à felicidade, enquanto ações contra o bem comum resultam em sofrimento.
3. Aqueles que agem virtuosamente se tornam virtuosos, enquanto aqueles que agem erroneamente sofrem e causam sofrimento.
4. Os resultados das ações são limitados, o que significa que os karmas se esgotam, cedo ou tarde.
5. Cada indivíduo constrói sua própria vida e destino.
6. Inevitavelmente, colhemos as consequências de nossas ações.
O desafio surge quando tentamos manipular os resultados. A tentativa de alterar o inalterável nos conduz a uma incessante insatisfação e sofrimento. Não compreendemos as limitações de nossos poderes nem distinguimos o que pode ser mudado e o que não pode.
Não é necessário investigar vidas passadas para entender nosso karma; basta observar, reconhecer e identificar seus efeitos em nós e em nossas vidas agora. A astrologia védica é uma excelente ferramenta neste sentido. Os padrões negativos podem ser transformados ou, pelo menos, compreendidos por meio de práticas como meditação, mantras, yoga e rituais. Em última análise, a consciência é o primeiro passo para a transformação e para nos libertarmos do autoengano.
O sol, entre muitos indicadores, simboliza a nossa alma. Que este novo ciclo solar nos brinde com uma profusão de oportunidades para aprender e evoluir, inspirando-nos a viver em plena harmonia com a Ordem do Universo. Que possamos não apenas honrar nossas escolhas, mas também acolher os desdobramentos naturais que delas advêm, enriquecendo assim nossa jornada de crescimento e autoconhecimento.