reza a natureza
Imagine-se morando em um local próximo a um rio, com água límpida, ar puro que entra fresco no corpo, cercado por muitas árvores e o canto dos pássaros. Nesse lugar, você se alimenta do que a natureza oferece. Se adoecer, recorre à natureza em busca de cura, pois não há farmácia. Não há internet, nem barulho, nem supermercado. Não há violência, não há insegurança, não há medo. As crianças brincam livremente nas ruas, colhem frutas das árvores. Existe tempo para tudo, sem pressa. Tempo para se olhar, para identificar o que nos faz sentir bem, nossas preferências e aversões. Você se sente bem, feliz, tranquilo, em paz, e as pessoas se ajudam mutuamente.
Como você se sentiu ao imaginar esse cenário?
Esse lugar descrito é a Índia, há sete mil anos, onde uma sociedade assim floresceu, desfrutando de boa água, ar puro, alimentação saudável, poucas doenças e uma comunidade solidária, totalmente integrada ao ambiente natural. Nesse contexto, desenvolveu-se um sistema de conhecimento do ser, focado na observação pessoal, dos animais, do céu, das plantas. Surgem os Vedas, transmitidos oralmente de geração em geração, até serem sistematizados nos livros clássicos que hoje reúnem esse vasto conhecimento
É crucial lembrar que isso só foi possível porque essas pessoas dispunham de tempo. Não precisavam correr atrás de dinheiro, pagar contas, dar conta de tudo. Hoje, mesmo quem vive próximo à natureza enfrenta estímulos constantes, conectados à internet, telefones, computadores. Independentemente do local onde vivemos, temos um sistema médico centrado em medicamentos, que aliviam sintomas, mas não tratam a causa do problema. Passamos os dias a correr atrás de algo, muitas vezes sem trazer satisfação, constantemente estimulados por distrações desnecessárias, que apenas geram confusão e cansaço.
A ideia não é sugerir que voltemos 7000 anos para ter uma vida melhor. Talvez a proposta seja estarmos mais atentos a essa distância que nos afasta tanto da natureza. É preciso lembrar que não somos uma coisa e a natureza é outra; nós somos natureza. Portanto, é fundamental seguir o ritmo do dia, o ciclo do sol, da lua. Eles estão presentes todos os dias, mesmo quando não observáveis no céu, em constante mutação.
Acompanhe essas presenças, reverencie-as, esteja pronto para o nascer do sol, entenda as energias da lua, quando está nova, pedindo introspecção, ou quando cheia, trazendo expansão; acompanhe o seu crescimento. Crie e estabeleça a sua forma de conexão, sintonizando-se com essas forças disponíveis. Entenda quando essas forças estão contrapostas, quando ocorrem os eclipses e a intensidade das transformações que provocam.
A natureza possui uma inteligência interna; caso contrário, como haveria vida? Como essa vida seria mantida? Quanto mais observamos a natureza e nos inserimos nesse ciclo natural, mais nos sentimos conectados e plenos de vida.